segunda-feira, 12 de maio de 2008

FREEZING EYES


Desespero... Após uma série interrupta de dias em que notoriamente nada lhe corre bem, entra numa fase de desespero. Nada do que planeia bate certo, os trabalhos por realizar nessa semana não vêem maneira de bater certo, as suas ferramentas de trabalho avariam insistentemente, os amigos não lhe retribuem chamadas e os dias tendem em mostrar-se encobertos e tristes. Dirige-se ao seu quarto, olha pela sua janela nostálgica e pinta o seu campo de visão à sua maneira, numa tentativa frustrada de escapar à realidade. A vontade de chorar aperta, mas o seu organismo não lhe permite aquela reacção de felicidade dolorosa. E deixa que a sua cabeça suavemente se encoste ao vidro da janela, desenhando a forma da sua testa esperançosa.
- Vou sair daqui, tenho que espairecer um pouco... - diz em voz alta, de modo a combater a sua preguiça e comodismo natos.
Sai de casa e dirige-se a um bar tranquilo. Senta-se no balcão e pede algo que lhe sossegue o corpo. Cabisbaixo, brinca ligeiramente com o copo, enquanto a sua mente é preenchida com inúmeros pensamentos cíclicos, que nenhuma interpretação válida lhe trazem. A concentração na sua auto-comiseração é tanta que mal sente uma mão que suavamente lhe toca no ombro. Um pouco assustado, vira-se para trás e repara numa mulher sorridente que lhe diz:
- Não o esperava ver por aqui. Já não o via há muito tempo!
Ele tenta vislumbrar a cara daquela voz doce, mas apenas consegue esboçar um desenho mental sobre como lhe parece ser aquele rosto escondido na escuridão do bar. Engole em seco e numa voz mais medida, diz:
- Nem eu esperava ver-me aqui... Peço desculpa mas não a estou a conhecer.
Ela pergunta se lhe pode fazer um pouco de companhia, e ele aceita prontamente. Convida-a para se sentar ao pé de si, e enquanto ela se coloca confortavelmente na cadeira a seu lado, ele aproveita para dar mais um trago no seu copo de whisky.
Poisa o copo levemente no balcão e limpa os lábios do sabor que resta. Lentamente, vira o seu rosto de encontro ao dela, e encontra uma cara sorridente por denotar no seu olhar o reconhecimento de uma pessoa outrora familiar. Era uma antiga cliente sua, a qual pelos vistos ainda o desarmava com o seu olhar único.
- Recorda-se de mim? - pergunta ela.
- Sim, para caras costumo ter uma boa memória. Nomes... isso é que já é problemático!
Ela relembra-lhe o nome dela, e cumprimenta-o com dois beijos na face.
- Sozinho aqui num bar a afogar as mágoas? - sorri-lhe nos olhos.
- Triste com a vida... - suspira enquanto enfia mais um trago de whisky pela goela abaixo.
- Por acaso sempre foi algo que me fez confusão. Sempre que me encontrei consigo, vi nos seus olhos um olhar muito triste e desiludido. Não pode ser. Assim não atrai energias positivas...
- Sim, estou farto de ouvir isso. Mas acho que no fundo cada um é como cada qual... As circunstâncias da minha vida, permitem-me poucos momentos de felicidade... que por vezes se tornam extremistas.
- Está assim tão mau de vida?
- Talvez não... Vivo muito de pequenas coisas... - a núvem que paira sobre a sua alma não o deixa acabar o raciocínio.
Ela notoriamente sem saber mais o que lhe dizer, mete uma mão sobre o seu ombro e a outra sobre a sua mão que não larga o copo de whisky. Ele sente-se um pouco invadido e nem sequer lhe retribui um olhar. Ela sussurra-lhe o seu nome de modo a chamar a sua atenção e diz-lhe:
- Sabe, eu quando o encontrava no seu local de trabalho, ficava sem palavras... Nunca sabia o que haveria de dizer, olhava para si e ficava sem jeito. Hoje ganho coragem para o convidar a partilhar uma sessão de cinema comigo amanhã. Infelizmente tenho que ir embora.
Ele olha para aquele olhar penetrante dela, suspira, e premeditadamente responde-lhe:
- Peço desculpa, mas vou ter que rejeitar. Não me leve a mal mas estou numa fase em que necessito de estar sozinho. Talvez noutra altura...
Ela fica notoriamente triste, e não insistindo mais despede-se, deixando para trás um rasto de descontentamento. Ele enfia o resto do conteúdo do copo no corpo, como forma de raiva por ser um indivíduo com princípios tão vincados, e uma consciência do tamanho do universo.
- É mais um whisky, faz favor!

2 comentários:

Psyco disse...

"Dá Deus nozes a quem não tem dentes", gente à espera que coisas destas aconteçam e depois vê-se gente a recusar tamanho convite.

Pronto agora a sério.

Deambular infinitamente pela mente não vai ajudar a que a vida melhore. As acções que se fazem é que permitem que algo evolua. Á que tentar algo novo. À que juntar forças e fazer algo diferente.
Talvez assim melhores dias viram.

Fica bem, um Abraço

R. disse...

Eu mandei-lhe um kiss um dia destes.já bem tarde.e ele...nada! tsccc,tsccc..as pessoas gostam dele,mas é difícil levar alguma luz,quando parece que insiste em viver nas trevas.Opá..!!

Up,my friend!GMDT**