segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

A NEW YEAR


Deita-se na cama. Numa tentativa frustrada de adormecer, encosta a cabeça na almofada. Puxa o teclado e rato para junto dos lençois e interage com o computador... abre página, fecha página, muda de janela, clica no mesmo sítio dezenas de vezes... permuta entre os vários tabs do seu browser de internet.
- Mas afinal o que é que eu queria fazer, mesmo? - Questiona-se na sua desconcentração habitual.
O tempo passa, e a consciência ordena-lhe que desligue tudo, feche os olhos e tente dormir... Com esforço a sua ordem é cumprida. Duas horas depois acorda em sobressalto com mais um sonho que o confude sobre o que é real ou não. Não consegue adormecer mais... E aí vem ele de volta ao teclado.
- Mas que raios? - abana a cabeça e suspira para cima do seu peito.
Deve ser a ânsia pelo dia em que transita para o novo ano. A expectativa de que algo de bom irá acontecer, alimenta a sua esperança com a ilusão daquele sonho de 120 minutos. Pede de olhos fechados que o destino o deixe voar para fora do marasmo em que se encontra.
Tenta convencer-se de que será uma boa altura para definir o seu ponto de viragem. Calma aí... Déjà Vu?

Um bom ano cheio de realizações para todos. Com muito sentimento feliz...

sábado, 29 de dezembro de 2007

THE END


... a história chega ao fim. Inicia-se o fim daquele marasmo. Temporariamente, avizinha-se uma núvem negra de descontentamento. As palavras escassam. O aperto é grande. O ego não tem força suficiente para o fazer acreditar... E assim vê, de uma outra perspectiva, o funeral da coisa mais bonita na sua vida.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

HIDE AND SEEK

É o sentimento do dia expresso numa voz bonita e uma pessoa peculiar.


where are we?
what the hell is going on?
the dust has only just begun to fall
crop circles in the carpet
sinking feeling

spin me round again
and rub my eyes,
this can't be happening
when busy streets a mess with people
would stop to hold their heads - heavy

hide and seek
trains and sewing machines
all those years
they were here first

oily marks appear on walls
where pleasure moments hung before the takeover,
the sweeping insensitivity of this still life

hide and seek
trains and sewing machines (oh, you won't catch me around here)
blood and tears (hearts)
they were here first

Mmmm whacha say,
Mmmm that you only meant well?
well of course you did
Mmmm whacha say,
Mmmm that its all for the best?
Because it is
Mmmm whacha say?
Mmmm that it's just what we need
you decided this
whacha say?
Mmmm what did she say?

ransom notes keep falling out your mouth
mid-sweet talk, newspaper word cut outs
speak no feeling no i don't believe you
you don't care a bit,
you don't care a bit

(hide and seek)
ransom notes keep falling out your mouth
mid-sweet talk, newspaper word cut outs

(hide and seek)
speak no feeling no i don't believe you
you don't care a bit,
you don't care a (you don't care a) bit

(hide and seek)
oh no, you don't care a bit
oh no, you don't care a bit

(hide and seek)
oh no, you don't care a bit
you don't care a bit
you don't care a bit.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

LATE NIGHT


O jantar com amigos, tinha sido uma boa ideia. Embora a sua escolha de prato não tenha sido acertada, o vinho que ingeria fazia vibrar todo o seu paladar. Sem dar por ela, um sorriso provocado por aquele saboroso tinto, fazia inchar as suas bochechas. Repentinamente, as suas preocupações, os seus problemas de momento, encontravam um sítio latente onde repousavam e lhe davam a paz de espírito que necessitava naquele iluso instante de tempo. A embriaguez do seu ser, estava iminente...
Após um pagamento doloroso pelo óptimo jantar que lhe proporcionou alguns momentos de maior euforia que o normal, encontrou a saída, onde algumas pessoas ainda o esperavam. Numa conversa desenfreada, partilhava uma garrafa de vinho oferecida pelo dono daquele restaurante, com um amigo que igual a ele, parecia ter retocado levemente os seus lábios de um vermelho escuro. Os seus olhos pareciam radiar umas veias vermelhas, que lhe saiam directamente da íris. Lentamente, cambaleando por entre as extremedidas da zona pedestre que os levava de encontro ao bar onde todos os presentes no jantar se encontravam, partilhavam as suas filosofias próprias do estado de euforia em que se encontravam.
Lá dentro, continuar a alimentar o sangue com alcool, parecia ser a melhor opção a tomar. E potenciar a facilidade de diálogo com algumas das pessoas conhecidas que por lá se encontravam a interagir sociavelmente e a ouvir aquele som, que não tinha maneira de entrar nos seus ouvidos distraídos. A troca de olhares por entre algumas pessoas que desconhecia, mas que reconhecia por serem assíduas na sua cidade, era inevitável.
Após ter partilhado os seus já habituais comentários moralistas e simpáticos, próprios de quando se encontra naquele estado, Jason viu uma luz diferente em todo aquele bar. Não era um brilho incadescente ou fluorescente... era um brilho que apenas iluminava os seus olhos atentos. Ela estava linda, como era de esperar... Com alguma incerteza na sua capacidade comunicativa perguntou-lhe:
- Que fazes aqui?
- Vim com a minha irmã. - respondeu ela com um olhar maroto por ver Jason naquele estado.
Jason não se recorda se o diálogo se prolongou mais do que aquelas palavras, apenas que pouco depois, pediu ao segurança que estava na porta se poderia vir cá fora apanhar um pouco de ar.
Tentou recompor-se a um estado aceitável, digno de alguém que se poderia deslocar até sua casa, sem necessitar da ajuda de alguém. Regressou para dentro do bar, e reparou que o ambiente estava demasiadamente ocupado. Decidiu despedir-se dos amigos e dirigiu-se ao caixa. Queria ir embora...
Enquanto na fila para pagar, dirigia os últimos abraços com desejos de boas festas aos trauseantes conhecidos que se encontravam por ali perto. Reparou que ela se encontrava um pouco atrás na fila, mas na sua insegurança instantânea, apenas deixou que o canto do seu olhar lhe transmitisse a presença daquele ser lindo. De qualquer das maneiras, controlar o seu campo de visão naquele estado de final de noite, não lhe era uma tarefa fácil.
Á saída, encontra um dos seus melhores amigos, que entretanto também se encontrava a caminho de casa. Em direcção aos carros, conversam sobre o estado lastimável em que ambos se encontravam. Ao meter as mãos no bolso de modo a tirar as chaves do seu carro, Jason encontra o seu telemóvel e decide ligar-lhe. Mas ela aparenta ter o telemóvel desligado...
Enfia todos os seus aparatos no carro e fica a trocar impressões com o seu amigo que entretanto espera a chegada da sua boleia. Quando volta a entrar no carro, repara que tem uma chamada não atendida dela. Prontamente retribui a chamada... ela atende:
- Onde estás? - pergunta Jason com curiosidade.
- Estou em casa.
- Posso passar aí?
- ...Sim. - responde ela com um ar hesitante.
Jason despede-se do grupo de amigos que entretanto se tinha por ali juntado e dirige-se a casa dela. Ela abre ligeiramente a porta para não deixar sair o calor da sala, e os dois estatelam-se no sofá. Já era bem tarde, e os seus corpos sentiam-se cansados... talvez por razões diferentes. Mesmo assim, falaram durante horas, incidindo maioritariamente no tema da vida. Jason falava mais, ainda se encontrava algo eufórico, e sentia necessidade de desebafar um pouco. Embora a sua conversa parece-se um pouco egocentrada, era a maneira de ele partilhar com ela os seus feitos, os seus sentimentos. Concentrava o seu olhar na sua cara, com a incerteza se ela estaria realmente a ouvir o que Jason dizia, ou se apenas num gesto de simpatia o acompanhava em presença.
Perguntou-lhe se não se queria ir deitar:
- Tás com uma carinha cheia de sono. Queres ir para a cama?
- Não... se quisesse já tinha ido. - respondeu ela.
Mais tarde Jason insistiu:
- Oh, tá-me a custar ver-te assim tão cansadinha. Anda, vou levar-te à cama! - dirige-se a ela com o intuito de lhe pegar ao colo e colocá-la no meio dos lençois.
- Deixa-te estar... eu se quiser vou pelos meus próprios pés. - diz ela num tom de alguma frieza nata.
Jason deita-se ao lado dela. Murmuram algumas palavras de fadiga e acabam por adormecer os dois no sofá. Ele começa a sonhar sem rumo nem destino, sem controlo de velocidade, slatando de episódio em episódio, sem perceber o significado daquilo tudo. Quase em todos os seus sonhos ela está presente...
Acorda a meio da noite e dá conta que está abraçado a ela, num acto de carinho, tentando mantê-la quente. Não querendo que aquele gesto seja mal interpretado, deixa que o seu corpo se encoste apenas ligeiramente ao dela, e mete-lhe a mão em cima da perna. Apenas quer transmitir que está ali... que toma conta dela. Jason não sabe se sonha acordado, se realmente dorme de alguma maneira, mas sente que pouco depois (quiçá?) ela levanta-se e vai dormir no seu quarto. Ao vê-la ir embora daquele sofá carinhoso, deixa que uma fresta maior se abra no seu coração e deixe entrar doses desmesuradas de tristeza. Mas não lhe afectavam... aquele momento em que dormiram amavelmente em uníssono, preenchiam-lhe muito mais os suspiros.
Levanta-se para ir à casa de banho e aproveita para espreitar para dentro do seu quarto, preocupado com o bem-estar dela. No escuro conseguiu avistar o seu dormir tranquilo. Regressou ao sofá e adormeceu a sua ressaca prematura.
Lembrou-se em como a sentia triste nos últimos tempos, e nos esforços em vão que faria para tentar animá-la, pois ela não abdica das suas defesas em situação alguma. Jason não sabe bem como lidar com toda esta situação. Entristece por não saber se ela sofre com os seus problemas, ou se ela se distancia do seu sentimento...
Sonha sempre com múltiplas maneiras de conquistar o seu coração, e todas elas exploram o seu potencial criativo, mas no final, o sabor amargo da frustação por saber que vive de mãos atadas, preenche-lhe a alma.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

HANDLE WITH CARE


Chega a casa. Senta-se e olha serenamente para o seu coração palpitante. Os pensamentos sobre o que deseja escrever são tantos que lhe bloqueiam os dedos... Não consegue escrever. Pesa desmesuradamente toda e qualquer ideia que deseja transmitir. Afinal, pretende dirigir uma mensagem a alguém por quem tem uma admirável consideração e que lhe preencheu muito a sua vida. Alguém que pelo ser bonito que representa, pelos momentos que consigo partilha, move o seu sentido de vida...
Por vezes receia que a inexistência de uma vivência presencial, torne todos aqueles momentos numa utopia... Já tinha deixado de imaginar como emitiria o seu sorriso, frente a uma alma tão enriquecedora. Claro que os cenários que pintava numa insigne tela preenchida a pastel, lhe eram relevantes. Mas no meio de tanto desencontro, aquele painel de pintura acabaria por ficar em branco. E a mais uma promessa de partilhar uma boa garrafa de vinho, numa viagem pelo mundo dos tristes dissabores da vida, não havia expectativa. Mas no fundo acreditava que a culpa não pertencia a ninguém... eram circunstâncias da vida.
Todas as oportunidades que se apresentavam como uma interacção entre os dois, de forma escrita, faziam com que ele continuasse a acreditar que a vida de sonho que lhe preenchia o pensamento, não seria certamente ilusiva. O seu excesso de frontalidade, a sua sinceridade dominante, encaixavam estranhamente bem na harmonia que existia entre os dois, e ele sentia-se bem...
Ela fazia-o respirar um ar menos denso, dirigindo-lhe palavras amáveis e adjectivos que nunca tinha visto serem a si endereçados. Mesmo assumindo por defeito que tudo fazia parte da sua simpatia inerente, deixava que, à sua maneira, aqueles pequenos gestos lhe elevassem o corpo a uma núvem de pacificidade e harmonia. Um sítio onde a susceptivelmente crédula fracção do seu ego, pertencente ao seu outro mundo, vivia momentaneamente ao ritmo de uma música que despertava uma panóplia de novas sensações.
Diz ela que o seu ser não é demente, é apenas característico. E aqui se deixa envolver outra vez num carrossel emocional... Sente-se livre para deixar que os profundos pensamentos façam parte do diálogo, contrapondo com alguns que ponderadamente são iludidos para fora do canal de comunicação. Muitas palavras ficam por dizer...
Na sua insegurança sabe que não chega ao topo da macieira... não é destino que lhe pertença, mas sonha sempre com o dia em que lá encontra a mais bonita maçã de todas.
Dedica-lhe esta música em ritmo de explosão sentimental...



I dig my toes into the sand
The ocean looks like a thousand diamonds strewn across a blue blanket
I lean against the wind, pretend that I am weightless
And in this moment I am happy
Happy

I wish you were here
I wish you were here
I wish you were here
I wish you were...here

I lay my head onto the sand
The sky resembles a back-lit canopy with holes punched in it
I'm counting UFO's, I signal them with my lighter
And in this moment i am happy
Happy

I wish you were here
I wish you were here
I wish you were...here
Wish you were here

The world's a rollercoaster
And I am not strapped in
Maybe I should hold with care
But my hands are busy in the air

I wish you were here
I wish you were...
I wish you were here
I wish you were here
I wish you were...here
Wish you were here

Thank you for everything... !!! És alguém verdadeira e inequivocamente especial!

(O mail prometido encontrará em breve o seu caminho...)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

LOVESTAIN



You left a lovestain on my heart
And you left a bloodstain on the ground
But blood comes off easily

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

BLOCKAGE


Espalha-se no seu colchão de ar leve... o seu corpo molda-se ao seu desenho. Esfrega a sua barba rija e por fazer, na almofada poluída com a sua essência tristonha. Abraça-se a si mesmo de modo a libertar o seu sufoco... o seu desassossego. Não existe nenhuma posição vertical que o faça sentir bem, e todas as verticais a levam à horizontal... sente-se tonto, os seus olhos conseguem ver um vulto das suas pestanas. Não consegue elaborar nenhum raciocínio, e a mesma música masoquista não lhe sai da cabeça... mas afinal onde tinha ouvido aquilo? Era de uma banda qualquer oldschool, que como muitas, tinha ditado o seu terminus no final da década de 90. E o escritor da letra era alguém seriamente perturbado, mas ele identificava-se um pouco com o que aquela voz sofredora transmitia.
A vontade que tem de sair daquele corpo alienado, é uma loucura que cada vez lhe faz mais sentido. Já não aguenta viver consigo mesmo, acordar todos os dias a sentir aquela tonelada de corpo colada à cama, que não o deixa sair da redoma e experenciar a vida. As suas noites, passa-as a enganar o corpo com um dormir fingido, pois sonha acordado com as pestanas fechadas...
Vive a certeza que a sua única escapatória, é o curar de uma ferida de cada vez, com muita fleuma e paciência. Mas o ser demente em que se tornara, prega-lhe partidas de noite, e não o deixa voar... fundamenta-lhe as raízes do estado emocional preocupante a que já se habituou subversivamente.
E quando todo o sonho e fantasia, todos os desejos e necessidades, caminham em direcção a uma desilusão desmedida, sente-se a frustação de já nem os gestos e as palavras lhe provocarem qualquer tipo de emoção. A harmonia com o resto do mundo cruel é uma quimera...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

NEW BLOOD


Jason deslocava-se a caminho do hospital a um ritmo de passeio descontraído. Naquele dia, tinha decidido doar o seu sangue, tendo como garantia uma análise que tinha feito há pouco tempo, que lhe indicara que tudo estava bem... no que dizia respeito ao combustível do seu corpo.
Deu entrada no hospital, dirigiu-se ao local destinado para a doacção e sentou-se a ler uma das revistas que datavam uns meses atrás, que tinham ali posto à disposição na sala de espera. A escolha não era muita. Apenas havia magazines cor-de-rosa... Pensou que poderia distrair os olhos nas imagens e nas letras gordas, pois não tinha paciência para ler o resto do conteúdo. Apresentava-se com alguma sonolência, com um ar cansado de enfastiamento, barba por fazer e calças rasgadas, causa de uma queda que o deixara estatelado no chão numa das suas noites de copos. Enquanto os seus olhos conjugavam as sílabas dos títulos dos artigos da revista, Jason já se encontrava perdido em pensamentos mil, até que uma voz o interrompeu:
- Desculpe, podia-me dizer as horas? - perguntou uma voz simpática de uma rapariga que entretanto se sentara a seu lado.
Jason desloca a sua mão ao bolso das calças, retira o telemóvel e transmite em tom informativo qual o horário que este apresentava.
- Ah, que engraçado, tem um telemóvel igual ao meu... - disse ela com alguma admiração.
- É normal. Este modelo foi vendido com alguma massividade nos últimos tempos.
- Se calhar poderia-me ajudar numa pequena dúvida que tenho... - olhou para Jason esperando que os seus olhos lhe indicassem alguma receptividade, a qual retribuiu prontamente. Mete a sua mão dentro da sua bolsa típica de senhora, remexe invisualmente no seu conteúdo como quem retira uma bola de um número da lotaria de um invólucro opaco, e saca do seu telmóvel e um dispositivo que parecia um auricular sem fios - Tenho aqui este auricular bluetooth, que não consigo por a funcionar em condições. O senhor parece-me entendido... não me poderia dar uma ajuda?
- Concerteza... Já emparelhou o auricular?
- Emparelhar? Hum... eu já fiz isso... penso que sim. - respondeu com alguma insegurança na voz.
- Posso ver se tem a configuração toda bem feita?
- Claro. - respondeu ela enquanto rapidamente lhe colocava o seu telemóvel na minha mão. - Esteja à vontade.
Analisando o seu telemóvel, reparava que o seu estado de conservação era insigne. E Jason pensava que o seu estava muito bem poupado. Acedeu aos menus do Bluetooth e reparou que não existia nenhum emparelhamento com dispositivo algum. Explicou à rapariga, como deveria interligar os dois meios de comunicação, mostrando-lhe e explicando de uma maneira pausada. Era a maneira como ele explicava sempre tudo... mesmo correndo o risco que na cabeça do explicando, ocorresse a ideia de que o julgava menos inteligente. Gostava de se sentir seguro na qualidade da instrução, queria garantir que o ouvinte percebia de facto tudo o que lhe explicava.
- Percebi. - diz a rapariga com uma feição de compreensão. - Já agora, o seu telemóvel também costuma bloquear nos menus quando se navega um pouco mais depressa?
- Não é costume. Pode acontecer quando o utilizador faz um pedido mais elaborado que pressupõe um maior processamento do telemóvel.
- Pois... Mas olhe... acontece-me sempre que faço isto, por exemplo... - e mostra-me num gesto frenéticamente surpreendente, uma combinação de navegação por entre alguns menus básicos. - Vê? Não lhe estou a pedir que me faça nada de especial...
- Estou a ver. Sabe, isso tem a ver com o processamento da imagem. Está a pedir ao telemóvel que rapidamente refresque a imagem, com a introdução de movimentos muito repentinos...
- Processamento da imagem?
- Eu passo a explicar... O ecrã do telemóvel é composto por pixeis. E a cada segundo, a cada um desses pixeis vai ser atribuída uma cor, que no seu conjunto formam uma imagem. E vamos supor que no seu modelo, isto é refrescado umas 60 vezes por segundo... (bla bla bla).
- Eh pá, mas tu vais mesmo explicar isto tudo à senhora? Não tens vergonha de entediar a pobre rapariga? - Jason ouvia uma voz profunda no fundo da sala de espera desenhada na sua mente.
Mas os olhos da rapariga estavam bem abertos e atentos... aparentemente apreciava o seu gesto explicativo e interessava-se pelo que Jason lhe dizia. Após terem trocado algumas ideias, a rapariga vira-se para Jason e diz:
- Eu gostava muito de ir tomar um café consigo. Gostaria de me acompanhar, no final da doação?
Jason esperava tudo, menos uma pergunta daquelas. E enquanto se perdia naquele momento sem que a sua boca emitisse qualquer tipo de som, entra uma enfermeira na sala:
- Sr. Jason? É a sua vez... - era a sua deixa. Aproveitara aquela interrupção para responder à simpática rapariga.
- Agradeço o convite. Talvez se o destino nos encontrar por mais alguma vez, eu pondere sobre o seu convite de uma maneira mais receptiva. Prazer em conhecê-la... - e enquanto lhe acenava com a cabeça respeitosamente, deslocou-se para a sala onde se encontravam a tirar sangue.
A enfermeira sobe-lhe a manga da camisa, descobrindo o seu braço peludinho.
- Estas veias estão com visibilidade boa para o efeito. - disse a enfermeira enquanto preparava a seringa.
- Não é normal... - respondeu Jason, pensando na razão pela qual o seu corpo bombeava sangue a um ritmo mais acelerado. E naquele breve instante, sentia-se bem.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

TUMBLING DOWN


Kay encontrava-se num poço sem fundo. Aos trambolhões numa queda dolorosa, o seu corpo apenas sentia a força que o sugava em direcção de um desconhecido constragedor, e onde já nem a luz da chama de uma vela se poderia avistar. Já tinha passado a fase de se tentar agarrar à rugosa parede daquele conduto sem fim, deixava-se ir leve e sem vida. Pensava em como tinha tentado agarrar-se a algo, que perspectivasse a possibilidade de construir uma escada feita de motivação, que lhe permitisse ver o céu novamente. Mas todas as tentativas lhe tinham saído frustradas. Sim, já tinha visto o céu por uma ou outra vez, mas na realidade a visão não passava de um delírio seu. Por mais que uma vez julgava estar no encalce do patamar do túnel, mas todas as advertências a que agora estava habituado lhe pregavam uma rasteira nos pés.
Esperava que algum braço comprido o pudesse salvar daquele sítio, apesar de estar convicto de que no grau de profundidade em que se encontrava, teria que ser ele próprio a arranjar uma solução para poder sair dali. Mas faltavam-lhe as forças, não encontrava motivação... Já não encontrava razões para voltar a ver o céu. Aquele seu estado depressivo, sorumbaticamente lhe roubava a alma...
Kay olhava para trás, com uma vontade desumana de poder reviver toda a sua vida desde a infância... Poder modificar a pessoa que se tinha tornado, na qual não via esperança de se poder tornar alguém. Considerava que o tempo já tinha escassado, e que todas as escolhas que trariam consigo a hipótese de viver o seu sonho, foram desperdiçadas.
Kay partilhava valores que eram de todo desadequados, que só ele percebia. Lutava contra a sua existência leviana e delgadamente obsessiva... considerava que ninguém o compreenderia na sua plenitude. As pessoas achavam-no esquisito, com alguma excentricidade de pensamento. Porém Kay não se sentia uma má pessoa, nem achava que o seu modo de pensar era incorrecto. Era apenas um maníaco na sua própria maneira de estar extravagante. Vivera com alguma dependência de sentimento um tanto ou quanto turbulenta... acreditava no sonho de construir a sua própria família feliz e só desistir de viver em harmonia com ela, no momento em que a morte lhe batesse à porta. Kay perdia-se em sentimentos e paixonetas como todas as outras pessoas, afinal amava as mulheres, mas uma de cada vez. Vivia na sua firme certeza, de que a fidelidade era dos seus mais altos valores. E que momentos tentadores e duvidosos surgiriam, mas no final o mundo que decidiu ser o seu, falava sempre mais alto.
Kay sonhava... naquela queda vertiginosa não havia muito mais a fazer... A pouca esperança que lhe restava, abafava-se com toda aquela filosofia pessimista.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A BLUR...


Conto os quadrados desenhados no chão de cimento, sem saber em que número vou...
Os meus olhos descaiem e começam a olhar para o meu próprio nariz, desfocando todo meu horizonte cinzento. Não consigo elaborar um único pensamento. A minha mente à deriva tenta com que todas as minhas ideias falem na mesma língua, e eu desconheço todas elas.
Torço o pescoço para o lado, e deixo que a cabeça pesada se apoie no ombro erecto. Vejo o meu destino ultrapassar-me como que um vulto de um cavalo de corrida afegante por querer chegar ao fim. E continuo a par e passo, esfregando os dedos irrequietos das mãos e suspirando contra o vento.
Chegando a uma encruzilhada onde nenhuma das ligações parece certa, o meu corpo pára e reflecte sobre todo o caminho que percorreu. Olho para trás, e apenas um túnel sombrio e desarmonioso me preenche a memória. Não me lembro qual o percurso que segui... Quais as curvas que dei. Lembro-me apenas das cicatrizes que tenho no corpo...
E agora? Que caminho seguir? E para onde se dirigiu o meu destino?

Let´s get lost

A mensagem que te queria deixar...



There’s nothing like doubt tearing your mind
To leave you muddled up and blind
There’s nothing like fear riding your soul
To leave you stone cold
There’s nothing like rain falling in the night
From a vast hidden height
Falling like tears from the dark sky’s lonely eye

There’s nothing like heat biting your skin
To let you boil from within
There’s nothing like sweat dripping down your sides
Gleaming nights
There’s nothing like flames licking in the air
Hungry, without a care
Licking like tongues, here and there
and everywhere

Let’s get lost
Let these frozen hearts defrost
Whatever the cost, let’s get lost
Let’s get lost
Roll the dice and play our cards
Whatever the cost
Let’s get lost

There’s nothing like hopes taken to the test
To the edge of more or less
There’s nothing like truth cutting to the bone
To leave you overthrown
There’s nothing like hearts breaking in two
As only trusting hearts can do
Breaking like glass, frail and new
What else can we do

Let’s get lost
Let these frozen hearts defrost
Whatever the cost, let’s get lost
Let’s get lost
Roll the dice and play our cards
Whatever the cost
Let’s get lost

In too deep
Already we're in too deep
Feels good to be in too deep

Um abraço muito especial para ti...
Espero não ter que ocupar espaço na prisão dos sentimentos proibídos.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Imagem desfocada (post de revolta)!

Nos tempos de hoje, uma das coisas mais marcantes e estúpidas na nossa sociedade é a importância que damos à imagem. Seja na aquisição de um produto qualquer em que nos deparamos com o seguinte comentário: - Ah, porque é tão bonito! - e lá se acaba por fazer mais uma compra emocional, quer na nossa aparência pessoal e a que vislumbramos (e às vezes invejamos) nos outros.
Como se não bastasse, a "idiot box" a que estamos habituados, as publicidades que nos bombardeam a vista, os catálogos e produtos que se consideram ser armas para ficarmos mais bonitos e charmosos, são um alimento venenoso que se digere sem ponderação.
E como hoje, esta história veio afectar a minha pequena e triste existência, só me apetece dizer:
- Damn you all to hell!!! - em alto e bom som.
Estou particularmente enjoado e repulso com todo este cenário teatral a que me sujeito, mal saio do meu casulo. E este é um sentimento que foi amadurecendo, e que estava necessitado de um burst.
Mas o que realmente me irrita solenemente, são os estereótipos fisionómicos que se vão criando, e que tal como a moda, vão e vêm. E entretanto lá se vai gastando o dinheiro em várias cirurgias plásticas de modo a colmatar os períodos off-season.
E muito mais me apetecia falar sobre isto, mas a minha raiva momentânea névoa o meu pensamento. Ainda com alguma racionalidade presente para não me meter em subjectividades...

Doce morango

Dou saída da sala de aula. Mais uma aula enfadonha de Sistemas de Informação. Meto as mãos no bolso, retiro o meu leitor de mp3 recheado de melancolia, e ponho os earbuds nos ouvidos. Ora, vamos cá fazer um shuffle a Zero7!
Fecho os olhos...
Percorro o caminho em direcção à saída da Universidade, com o pensamento apenas na passagem por uma pastelaria qualquer que tenha à minha disposição um saboroso doce. Pretendo que as minhas papilas enganem o cérebro com algo de bom.
- O que vai ser menino?
- Pode ser aquela tarte de chantili com o moranguinho no meio. - Tem mesmo bom aspecto.
Caminhando meio torto, segurando numa mão aquela tarte apetitosa e carregando no ombro uma mochila à tiracolo com o material de estudo, vou saboreando o chantili... quero deixar o morango para o fim. Claro... é usual deixar a parte que considero ser a mais saborosa, a que mais prazer me dá, para o final. Assim fico com aquele sabor na boca... até o estragar com o inalar de fumo do tabaco.
Percorro o passeio que acede a minha casa. Avisto ao fundo uma pessoa sentada na escadaria da entrada do meu prédio... mas espera... aquele vulto é-me familiar. Acelero o passo por forma a satisfazer a minha curiosidade. Começo finalmente a reconhecer as roupas que aquela pessoa decidiu mostrar ao mundo no dia de hoje. Não lhe consigo ver o rosto, pois tenta avistar algo no sentido contrário do qual me dirigo.
De repente o meu corpo fica parado... os meus pés juntam-se sem se conseguirem mexer. A sua face roda e de repente eu estou contido na sua visão... A tarte cai ao chão. O morango fica estatelado sobre o cimento...
- Ah, é ela! - diz-me o meu cérebro na sua tentativa de me induzir algum poder de reacção.
O tempo fica congelado de modo a que possa contemplar aquele momento. Numa fracção de milisegundos vêm-me à cabeça cenas do filme Cashback (onde me identifiquei muito), onde a personagem consegue parar o tempo a seu belo prazer...
O som do caminhar das pessoas, das viaturas que passam, e das canções natalícias, começam a chegar novamente aos meus ouvidos com um efeito de fade in. O teu olhar brilhante desfoca todos os outros planos constantes na minha incrédula visão. O meu pé direito ganha força, e com a vontade de ir para junto de ti, esborracha o morango perfeito que se encontrava no seu caminho. Sinto o corpo diferente... a mochila já não pesa, não encolho as mãos com frio, e os meus membros descoordenam-se enquanto me desloco até à entrada do prédio. Assim que chego à tua beira, levantas-te e dizes:
- Olá. - com um sorriso de beicinho.
- Como é que...? - são as únicas palavras que conseguem chegar às minhas cordas vocais.
- Li a tua mensagem e decidi que tinha que te ver.
- Mensagem? Mas... Não percebo! - Balbuciei na irrealidade de todo aquele momento.
- Anda, vamos subir. Explico-te melhor enquanto te deito na cama e encosto a minha cabeça no teu peito. Está frio aqui...
Verifico o bolso em que usualmente trago as chaves. Só pela terceira vez que lá meto a mão, as encontro... Abro a porta e deixo que ela vá seguindo para chamar o elevador.
Abro os olhos...
Cumprimento o segurança da entrada da Universidade e desejo-lhe boas noites. Ora vamos lá buscar a tarte de chantili com morango!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Lágrima Contida




O sol trespassa a longíqua janela do quarto, tocando-me levemente no meu corpo embrulhado em roupa de cama desarrumada. Com os joelhos quase encostados no peito, uma mão enfiada entre as pernas e a outra a segurar a cabeça, lentamente a imagem captada pelos meus olhos começa a chegar ao cérebro. Está na altura de acordar...
- Vou sonhar só mais um bocadinho. - penso eu na esperança de ainda conseguir adormecer mais uns minutos.
Sinto-me cansado, porém tenho a ideia de que esta noite dormi muito bem. Não será cansaço concerteza... é falta de motivação para acordar e fazer algo. Aqui sinto-me bem melhor para já...
Ainda absorto na minha tristeza matinal, deixo que o meu corpo se arraste muito levemente da cama. Dirijo-me à cozinha, abro a porta do frigorífico e fico impávido a contemplar o seu conteúdo, não encontrando aquilo que procuro.
- Oh, não era aqui que queria vir. - encolho levemente os ombros e sigo o percurso em direcção à casa de banho.
Lavo a cara com àgua fria, na esperança de me congelar o cérebro de tanto pensamento. Elevo a cabeça até ver a minha melancólica figura no espelho, e penso para mim: - Quem me dera que o espelho estivesse avariado, era uma desculpa tão bonita...
De volta ao meu quarto, encosto a minha almofada na parede. Sento-me na cama e deixo que o meu corpo se descontraia sobre ela. Observo uma fotografia enrodilhada por ter sofrido uma tentativa de destruição, pendurada no canto do meu painel de corticite. Enquanto os meus olhos focam a imagem gasta desse teu momento, inicia-se uma tempestade na minha mente. Primeiramente uma chuva de pensamentos sobre ti, seguida de uma panoplia de dores incontroláveis... Porém o meu corpo mantêm-se sereno.
O meu cérebro dá ordens a este corpo fragilizado, para derramar algumas lágrimas... mas os olhos não obedecem. Nem sequer humidificam... Já há alguns anos que os meus orgãos visuais não cumprem esta desanuviante e necessária função. E o aperto torna-se maior... Bolas! Se apenas uma diferença de temperatura consegue surtir o efeito de lacrimejar numa estátua, como é possível um ser humano cheio de dor e sofrimento não derramar uma única gota? Talvez seja a dormência de que tanto falo...

Pego na minha mão esquerda e ponho-a sobre o ombro oposto, deixando que o meu rosto se apoie no meu braço. Do canto do meu olho, vislumbro o telemóvel. Pego nele e inicio o processo de envio de mensagem escrita:
- Sinto falta da tua voz, dos teus conselhos... de fazer festinhas à tua gata quando ela se deita entre nós, olhando para ti e desejando que os carinhos fossem todos para ti.
Carrego no botão de cancelar, e lá vai mais uma mensagem para os rascunhos.
Damn it! Fecho os olhos, sacudo a cabeça e deixo os lábios soltos... Wake up call!!!
Vou às compras, está na hora de fazer o almoço...

sábado, 1 de dezembro de 2007

Visita inesperada...


Dez da manhã... A campainha toca pouco depois de a porta se ter fechado. Do meio da escuridão do hall do prédio, surges tu. Mesmo com as pestanas entrelaçadas, os meu olhos ganham vida... Estás deslumbrante, como sempre. O cheiro do teu perfume baixa todas as minhas guardas, o teu olhar hipnotiza deixando-me tonto.
Ao fechar da porta de entrada, a luz parece enfraquecer e só me consigo concentrar no focar do teu aproximar. O meu coração bombeia sangue para todas as partes do meu corpo, como nunca... Controlo o meu respirar para não interferir com o teu rosto. Agarras-me nos ombros, empurras-me contra a parede que não devia ali estar, e encostas o teu corpo ao meu. Numa sensação de calor avassaladora, aproximas os teus lábios dos meus e beijas-me suavemente. Os nossos olhos fecham-se a contemplar tal momento... As nossas bocas saboreiam-se enviando mensagens sensuais ao cérebro. Meto as mãos no teu rosto, e estupidamente puxo os nossos queixos para baixo até sentir o teu nariz.
- Tinhamos combinado esta noite, que apenas dormiriamos juntos. - disse eu, ainda tentando controlar o fôlego.
- Eu sei, mas só me consegui conter até à entrada do prédio.
Dez da manhã... o despertador toca! Acordo para mais um dia cansativo, triste por não saber quem és!

Um viseense em festa nicolina...

Mas que raios? Dois bois a puxarem um enorme pinheiro, por um trajecto que finda perto de uma igreja, onde toda esta gente o vai tentar erguer? Ah, porque é tradição... Bolas, eu realmente vivo tempo demais no meu mundo.
Mas tambores e tarolas não faltam. São aos milhares... E de 100 em 100 pessoas lá está um grupo destes "músicos" a tentar tocar em uníssono, comandados por um suposto maestro que os orienta com uma enorme couve. É a festa do Pinheiro por Guimarães... E enquanto se percorrem as ruas do seu trajecto, milhares de pessoas socializam, bebem e riem like there´s no tomorrow. A julgar pelos dias que antecedem a festa, preenchidos por pancadas em tambores que ecoam pelo ar, mostrando a vontade de aprender a tocar aquela melodia nicolina a tempo de realizar uma boa performance, a expectativa pela chegada deste dia é alta... E bem se vê. Tanta gente, meu deus! Nem os ladrões que poderiam aproveitar o facto de literalmente não estar ninguém por casas vimaranenses, faltam à festa...
E enquanto tento encontrar maneira de chegar a outra rua, observo as feições desta multidão... quase que perco o comboio de amigos com quem vim, que de 3 em 3 minutos propõem um brinde. Lá vai mais um desvaste na garrafa de plástico cheia de vodka e sumo de laranja.
Olha-me para o comprimento do pinheiro... estou curioso por saber como é que eles vão levantar isto. E terão condições para o fazer? Metade das pessoas que vejo já denotam um grau de alcoolémia off the chart. Mas espera... a mim já me falta um pouco de nitidez de imagem no meu olhar...
- Vamos para os bares da Oliveira... - alguém diz com uma boa disposição suspeita. E lá se vai a garrafinha de sumo. Chegámos! Encontro um amigo que me abraça com força. Conversamos um pouco e nisto ele diz: - Tenho uma coisa para ti. - E prontamente abre-me a mão, depositando uma substância verde com um cheiro realmente fresco nela. - Vamos lá fora apanhar um pouco de ar. - Já sei do que se trata. Hoje é festa!
Cá fora, numa rua estreita apinhada de pessoas que se agrupam em formas circulares, o cheiro da minha mão é abafado pela névoa provocada pelo expirar do fumo contido nos pulmões de tão anciosas almas. E concentrado na tarefa que me calhou para fazer, desapercebo-me dos outros anciosos que por ali se juntaram, como que um sinal de stop obrigatório tivessem avistado.
Umas inalações depois, a troca de pensamentos únicos provocados por um estado de euforia momentâneo é inevitável. Pouco depois, a sensação de um bem-estar aparente... E de repente o mundo ficou mais pequeno.
Dou dois passos em frente. Subitamente um tornado apodera-se da minha cabeça, criando um mal estar no meu corpo. Tenho que me ir sentar em algum lado... Abandono aquela gente, dizendo: - Vou dar uma volta. Preciso de caminhar...
Deambulando por entre pessoas estranhas, tento avistar algum sítio onde possa repousar de modo a sossegar a alma. Eis que aparece no meu horizonte uns degraus de uma escadaria. - Parece-me um bom sítio. Sento-me. O latejar na minha cabeça não parece sossegar... - Não posso estar sentado. - a minha mente começa a ficar confusa. Aparentemente não parece haver solução para tanto turbilhar. Sinto o corpo a desvanecer, como se a morte estivesse ali sentada ao meu lado a tentar convencer-me que me deixe ir... Not yet. Levanto-me e procuro outro sítio qualquer onde ela não esteja por perto. Reparo num muro que aparenta ter espaço suficiente para o meu pesado corpo. Trepo o muro, e assim que estou nele assente, o meu corpo pede-me para me deitar. Estendo-me de braços abertos e fecho os olhos... Navego por entre inúmeros pensamentos de self pitty, como de costume. Mas afinal há quanto tempo estou ali?
Alguns momentos depois desta minha viagem com as cortinas dos olhos fechadas, sinto alguém tocar-me no ombro. Ouço uma voz suave que pergunta: - Olá, estás bem? - Volto a ligar o botão da realidade e vislumbro uma cara simpática. Os seus lábios permutavam entre um sorriso matreiro, e uma preocupação por me encontrar naquele estado. Prontamente respondi: - Está tudo bem. Apenas precisei de uns minutos de repouso absoluto. Obrigado!
- Se precisares de alguma coisa avisa... Eu estarei por aqui vigilante.
Perante tais palavras a única coisa que consegui fazer, foi deixar escapar um sorriso adormecido e acenar com a cabeça afirmativamente. Espero que tenha percebido que lhe estava agradecido...
Sigo para o bar onde se encontram os meus amigos...
- Por onde andaste? Vi-te a desaparecer na multidão...
- Estava necessitado de uma caminhada. Vou seguir o meu caminho para casa, já não consigo usufruir de mais nada que esta noite tenha para me oferecer. Divirtam-se...
No meu percurso, iria passar por uma enorme rotunda onde o som dos bombos e tambores não parecia ter descanso. Bolas, depois de umas 5 horas a martelar naquilo? Pelos vistos a alegria continua.
E eu? Porque razão não consigo gozar estes momentos? Porque não vejo grande piada nestas coisas? Mas afinal no é que eu vejo piada?
Chego a casa, ainda tenho forças para estender os braços no teclado do meu portátil... Tenho uma mensagem nova... O meu dia está ganho!

Uma barreira quebrada...

- Oh, mas afinal o que estás tu a fazer? Então mas agora deu-te para isto?
- Shhh... Agradeço a quem me motivou a criar este meu pequeno espaço que nunca ninguém vai ler, mas que decerto modo poderá potenciar a necessidade que tenho de escrever "aquela carta" sem endereço...
- Sem endereço? Carta?
- Sim. E escrevo com um sentimento de liberdade que transcende o facto de alguém perceber ou não as minhas palavras.
- Já falamos sobre estas coisas várias vezes... Era suposto desviares a tua atenção deste tipo de pensamentos.
- Era suposto sim, mas infelizmente não consigo bloquear estas coisas... Fazem parte de mim, sempre o fizeram. Maybe now is the time to finally come out of the nutshell...
- Se te criei a nutshell, foi para o teu próprio bem. Não te esqueças que eu sou a interpretação da tua vivência.
- Decidi tomar esta decisão sem te consultar. Não quero estar mais preso dentro de uma redoma que não me deixa viver em pleno. Não te preocupes... Isto não é algo que me possa dar uma chapada quando menos espero.
- Muito te enganas... E o que as pessoas irão pensar de ti... Isso não te incomoda?
- Not anymore!!!

E foi ao mostrar-me que sou um "coração avariado", que para estas bandas vim. A ti te agradeço...