quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

INSECURE

Passara o final de tarde na piscina. Esbracejava a usa tristeza, por entre mergulhos profundos naquele local solitário. Estava sozinho... Sonhava e idealizava o acontecimento que iria decorrer naquela noite. Anseava por esse momento, sem a certeza se finalmente era desta vez que conseguiriam estar juntos. Por outro lado, receava com todo o seu ser, estar com ela nessa noite. Iria mostrar o nervosismo e timidez que faziam parte dele? Iria ela gostar da sua companhia? Iria controlar a sua impulsividade, a sua inconsequência? Iria medir as palavras proferidas, os gestos empregues na interacção entre os dois? A tantas perguntas, o seu bom senso e a sua forte consciência reforçaram a ideia de ser ele mesmo... não havia razão nenhuma para que fugisse do seu ser. Nem o medo de potencialmente assustar aquela doce rapariga. Afinal, se gostasse dele, seria pela pessoa que ele era... que ele representava.
Dirige-se ao chuveiro, onde fica a marinar debaixo da corrente de àgua quente. É um dos seus sítios preferidos para ganhar asas e voar na sua imaginação. Por vezes chega a desligar-se tanto da realidade, que o seu corpo praticamente adormece, mantendo apenas os sentidos necessários para se manter seguro... protegido.
No seu roupeiro, perde-se numa indecisão sobre qual a vestimenta que quer levar para o jantar... não é habitual. Normalmente veste a primeira coisa que apanha a jeito. Mas hoje preocupa-se com a sua imagem... quer parecer um homem delicado.
Organiza todo o material necessário para o jantar com aquele amor de rapariga e senta-se à mesa, com um cigarro numa mão e um copo de vinho noutra. Chegou a altura de esperar pela sua companhia. Ele, que sempre chega atrasado a todos os encontros, estava neste dia, mais que pontual. Respira fundo, e suspira de ansiedade... de beleza visual. O cenário estava lindo.
Espreita pelo canto do olho e vislumbra alguém que trás um vestido que dança com o vento.
- É ela... - pensa ele sossegando a sua ansiedade, acelerando o bombear do seu coração.
Um pequeno raio de luz distante, começa a desvendar lentamente a beleza dela... No final de tal apresentação inesquecível, os seus olhos ficam bloqueados nos pormenores do seu rosto, à medida que vão aparecendo. Ela é mesmo uma mulher muito vistosa, e seriamente bonita.
Chega ao pé da mesa de jantar e dá-lhe um beijo carinhoso.
- Trago fome. - diz ela com um sorriso, piscando-lhe o olho. - E a comida está com um aspecto excelente.
- Claro que está! Foi feita com carinho... - diz rindo-se e esperando que ela não o leve a sério.
Durante o jantar, pouco falaram. A fome era tanta, que devoravam a comida repetidamente servida nos seus pratos. Após alguns copos de vinho, para ajudar a disgestão, começaram a falar interminavelmente sobre pequenas coisas da vida. Recordaram alguns dos momentos mais marcantes nas suas vidas. Embora nenhum deles fosse um bom ouvinte, respeitavam-se meticulosamente nas atribuições de "tempo de antena". Naquela noite, agarravam-se a toda e qualquer palavra proferida. Estava a ser um momento muito especial.
Ela levanta-se mete a cadeira mais perto da sua, e encosta-se ligeiramente a ele. Pouco depois ele senta-se no chão e ela partilha o momento encostando-se de costas no seu peito. Após uma troca de ideias sobre o universo enquanto olhavam para as estrelas, ela faz uma pausa e diz:
- Sabes, estive o dia todo a pensar neste nosso encontro. Não conseguia fazer nada de jeito...
- Além de bonita, és simpática... começo a sentir-me deslocado. - diz ele enrolando as sílabas.
- Olha que estou a falar sério. Pensei muito nisto... E deslocado, porquê? - pergunta com uma voz curiosa.
- Porque começas a revelar-te unicamente especial. Começo a tremer só de te sentir ao pé de mim... - responde combatendo a sua timidez.
Ela vira-se para ele, mete-lhe os braços em cima dos ombros e observa-o com um olhar sério. O vento passeia nos seus cabelos... Lentamente, começa a aproximar o seu rosto do dele... mas ele desvia a cara e dá-he um abraço, encostando a sua cara nos ombros dela.
Numa voz muito macia, diz-lhe ao ouvido:
- Sonhei muito com o nosso primeiro beijo. Gostava que fizesse parte de um momento perfeito e inesquecível.
Ela observa-o em admiração e emitindo um sorriso, diz:
- És um tonto... Estamos aqui os dois vestidos a rigor, bem cheirosos, à luz destas velas de chama instável, sobre este luar desnudado, sentados na nossa manta de praia, a ouvir o barulho do mar... Nesta praia lindíssima. E eu, arrepio-me só com a tua voz. Queres mais perfeito que isto? - pergunta enquanto lhe agarra na cabeça com as duas mãos e lhe olha directa e profundamente nos olhos.
- Queira estar seguro de que sentes algo parecido com o que sinto neste preciso momento. - diz com uma voz trémula, suspirando. Durante minutos a fio, trocam olhares penetrantes, sem dizer uma única palavra. Não era preciso...

5 comentários:

Jo disse...

and suddenly, that kiss...

( http://www.radioblogclub.com/
open/98776/morelenbaum/
11-MORELENBAUM_2_RYUICHI_
SAKAMOTO-_Fotografia )

imaginei o som assim...

:)*

Abssinto disse...

Ele que não seja tão idealisto-romantico...erao conselho que eu lhe daria. É uma pena, mas não se deve ser assim. Sob o risco de perder o que pode existir de mais importante para nós.

abraço!

Psyco disse...

Sonhar nunca fez mal a ninguém. Apesar de que nunca se deve pensar que as coisas vão correr como sonhamos ou idealizamos.
Contudo é o sonho que permite ao ser humano almejar o que mais quer e com algum trabalho e dedicação obter o que sonhou. Sonhar pode ajudar a viver, permanecer no sonho é que é perder a vida.

R. disse...

In love,my friend(?)

;)

(lindo,este texto.macio)

Glummy disse...

maria:
yes, that kiss ;)
*

abs:
e afinal o k é o mais importante para nós?

psyco:
I live in emy dreams, therefore, I lost my life...?

Ve:
I only wish... Nope, still dreaming. Nice dream though. She had no idea I felt like that back then... never did.