quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

LATE NIGHT


O jantar com amigos, tinha sido uma boa ideia. Embora a sua escolha de prato não tenha sido acertada, o vinho que ingeria fazia vibrar todo o seu paladar. Sem dar por ela, um sorriso provocado por aquele saboroso tinto, fazia inchar as suas bochechas. Repentinamente, as suas preocupações, os seus problemas de momento, encontravam um sítio latente onde repousavam e lhe davam a paz de espírito que necessitava naquele iluso instante de tempo. A embriaguez do seu ser, estava iminente...
Após um pagamento doloroso pelo óptimo jantar que lhe proporcionou alguns momentos de maior euforia que o normal, encontrou a saída, onde algumas pessoas ainda o esperavam. Numa conversa desenfreada, partilhava uma garrafa de vinho oferecida pelo dono daquele restaurante, com um amigo que igual a ele, parecia ter retocado levemente os seus lábios de um vermelho escuro. Os seus olhos pareciam radiar umas veias vermelhas, que lhe saiam directamente da íris. Lentamente, cambaleando por entre as extremedidas da zona pedestre que os levava de encontro ao bar onde todos os presentes no jantar se encontravam, partilhavam as suas filosofias próprias do estado de euforia em que se encontravam.
Lá dentro, continuar a alimentar o sangue com alcool, parecia ser a melhor opção a tomar. E potenciar a facilidade de diálogo com algumas das pessoas conhecidas que por lá se encontravam a interagir sociavelmente e a ouvir aquele som, que não tinha maneira de entrar nos seus ouvidos distraídos. A troca de olhares por entre algumas pessoas que desconhecia, mas que reconhecia por serem assíduas na sua cidade, era inevitável.
Após ter partilhado os seus já habituais comentários moralistas e simpáticos, próprios de quando se encontra naquele estado, Jason viu uma luz diferente em todo aquele bar. Não era um brilho incadescente ou fluorescente... era um brilho que apenas iluminava os seus olhos atentos. Ela estava linda, como era de esperar... Com alguma incerteza na sua capacidade comunicativa perguntou-lhe:
- Que fazes aqui?
- Vim com a minha irmã. - respondeu ela com um olhar maroto por ver Jason naquele estado.
Jason não se recorda se o diálogo se prolongou mais do que aquelas palavras, apenas que pouco depois, pediu ao segurança que estava na porta se poderia vir cá fora apanhar um pouco de ar.
Tentou recompor-se a um estado aceitável, digno de alguém que se poderia deslocar até sua casa, sem necessitar da ajuda de alguém. Regressou para dentro do bar, e reparou que o ambiente estava demasiadamente ocupado. Decidiu despedir-se dos amigos e dirigiu-se ao caixa. Queria ir embora...
Enquanto na fila para pagar, dirigia os últimos abraços com desejos de boas festas aos trauseantes conhecidos que se encontravam por ali perto. Reparou que ela se encontrava um pouco atrás na fila, mas na sua insegurança instantânea, apenas deixou que o canto do seu olhar lhe transmitisse a presença daquele ser lindo. De qualquer das maneiras, controlar o seu campo de visão naquele estado de final de noite, não lhe era uma tarefa fácil.
Á saída, encontra um dos seus melhores amigos, que entretanto também se encontrava a caminho de casa. Em direcção aos carros, conversam sobre o estado lastimável em que ambos se encontravam. Ao meter as mãos no bolso de modo a tirar as chaves do seu carro, Jason encontra o seu telemóvel e decide ligar-lhe. Mas ela aparenta ter o telemóvel desligado...
Enfia todos os seus aparatos no carro e fica a trocar impressões com o seu amigo que entretanto espera a chegada da sua boleia. Quando volta a entrar no carro, repara que tem uma chamada não atendida dela. Prontamente retribui a chamada... ela atende:
- Onde estás? - pergunta Jason com curiosidade.
- Estou em casa.
- Posso passar aí?
- ...Sim. - responde ela com um ar hesitante.
Jason despede-se do grupo de amigos que entretanto se tinha por ali juntado e dirige-se a casa dela. Ela abre ligeiramente a porta para não deixar sair o calor da sala, e os dois estatelam-se no sofá. Já era bem tarde, e os seus corpos sentiam-se cansados... talvez por razões diferentes. Mesmo assim, falaram durante horas, incidindo maioritariamente no tema da vida. Jason falava mais, ainda se encontrava algo eufórico, e sentia necessidade de desebafar um pouco. Embora a sua conversa parece-se um pouco egocentrada, era a maneira de ele partilhar com ela os seus feitos, os seus sentimentos. Concentrava o seu olhar na sua cara, com a incerteza se ela estaria realmente a ouvir o que Jason dizia, ou se apenas num gesto de simpatia o acompanhava em presença.
Perguntou-lhe se não se queria ir deitar:
- Tás com uma carinha cheia de sono. Queres ir para a cama?
- Não... se quisesse já tinha ido. - respondeu ela.
Mais tarde Jason insistiu:
- Oh, tá-me a custar ver-te assim tão cansadinha. Anda, vou levar-te à cama! - dirige-se a ela com o intuito de lhe pegar ao colo e colocá-la no meio dos lençois.
- Deixa-te estar... eu se quiser vou pelos meus próprios pés. - diz ela num tom de alguma frieza nata.
Jason deita-se ao lado dela. Murmuram algumas palavras de fadiga e acabam por adormecer os dois no sofá. Ele começa a sonhar sem rumo nem destino, sem controlo de velocidade, slatando de episódio em episódio, sem perceber o significado daquilo tudo. Quase em todos os seus sonhos ela está presente...
Acorda a meio da noite e dá conta que está abraçado a ela, num acto de carinho, tentando mantê-la quente. Não querendo que aquele gesto seja mal interpretado, deixa que o seu corpo se encoste apenas ligeiramente ao dela, e mete-lhe a mão em cima da perna. Apenas quer transmitir que está ali... que toma conta dela. Jason não sabe se sonha acordado, se realmente dorme de alguma maneira, mas sente que pouco depois (quiçá?) ela levanta-se e vai dormir no seu quarto. Ao vê-la ir embora daquele sofá carinhoso, deixa que uma fresta maior se abra no seu coração e deixe entrar doses desmesuradas de tristeza. Mas não lhe afectavam... aquele momento em que dormiram amavelmente em uníssono, preenchiam-lhe muito mais os suspiros.
Levanta-se para ir à casa de banho e aproveita para espreitar para dentro do seu quarto, preocupado com o bem-estar dela. No escuro conseguiu avistar o seu dormir tranquilo. Regressou ao sofá e adormeceu a sua ressaca prematura.
Lembrou-se em como a sentia triste nos últimos tempos, e nos esforços em vão que faria para tentar animá-la, pois ela não abdica das suas defesas em situação alguma. Jason não sabe bem como lidar com toda esta situação. Entristece por não saber se ela sofre com os seus problemas, ou se ela se distancia do seu sentimento...
Sonha sempre com múltiplas maneiras de conquistar o seu coração, e todas elas exploram o seu potencial criativo, mas no final, o sabor amargo da frustação por saber que vive de mãos atadas, preenche-lhe a alma.

4 comentários:

Anónimo disse...

Estou a ver que a tua noite continuou,e continuou ;)

Sabes,deita a insegurança para trás das costas,essa coisa dá cabo de qualquer um,e tu és especial.basta isso**

Um beijo grande

Abssinto disse...

E se calhar a Amizade é mais forte do que um arrebatamento amoroso, se bem que a início custa, acabamos por "vesti-la" bem. É o que tenho a dizer ao Jason.

Anónimo disse...

bom final de história...

Psyco disse...

O medo é o problema para se recuperar algo que se perdeu. Temos medo de deitar tudo a perder, de perder o pouco que já conseguimos.
Mas pessoalmente começo a acreditar que este medo é despropositado e a menos que tenhamos razoes palpáveis para não o fazer, devemos fazer aquilo que achamos melhor para nós.
Acho que é isso que deveria começar a fazer o Jason.:P