domingo, 2 de dezembro de 2007

Lágrima Contida




O sol trespassa a longíqua janela do quarto, tocando-me levemente no meu corpo embrulhado em roupa de cama desarrumada. Com os joelhos quase encostados no peito, uma mão enfiada entre as pernas e a outra a segurar a cabeça, lentamente a imagem captada pelos meus olhos começa a chegar ao cérebro. Está na altura de acordar...
- Vou sonhar só mais um bocadinho. - penso eu na esperança de ainda conseguir adormecer mais uns minutos.
Sinto-me cansado, porém tenho a ideia de que esta noite dormi muito bem. Não será cansaço concerteza... é falta de motivação para acordar e fazer algo. Aqui sinto-me bem melhor para já...
Ainda absorto na minha tristeza matinal, deixo que o meu corpo se arraste muito levemente da cama. Dirijo-me à cozinha, abro a porta do frigorífico e fico impávido a contemplar o seu conteúdo, não encontrando aquilo que procuro.
- Oh, não era aqui que queria vir. - encolho levemente os ombros e sigo o percurso em direcção à casa de banho.
Lavo a cara com àgua fria, na esperança de me congelar o cérebro de tanto pensamento. Elevo a cabeça até ver a minha melancólica figura no espelho, e penso para mim: - Quem me dera que o espelho estivesse avariado, era uma desculpa tão bonita...
De volta ao meu quarto, encosto a minha almofada na parede. Sento-me na cama e deixo que o meu corpo se descontraia sobre ela. Observo uma fotografia enrodilhada por ter sofrido uma tentativa de destruição, pendurada no canto do meu painel de corticite. Enquanto os meus olhos focam a imagem gasta desse teu momento, inicia-se uma tempestade na minha mente. Primeiramente uma chuva de pensamentos sobre ti, seguida de uma panoplia de dores incontroláveis... Porém o meu corpo mantêm-se sereno.
O meu cérebro dá ordens a este corpo fragilizado, para derramar algumas lágrimas... mas os olhos não obedecem. Nem sequer humidificam... Já há alguns anos que os meus orgãos visuais não cumprem esta desanuviante e necessária função. E o aperto torna-se maior... Bolas! Se apenas uma diferença de temperatura consegue surtir o efeito de lacrimejar numa estátua, como é possível um ser humano cheio de dor e sofrimento não derramar uma única gota? Talvez seja a dormência de que tanto falo...

Pego na minha mão esquerda e ponho-a sobre o ombro oposto, deixando que o meu rosto se apoie no meu braço. Do canto do meu olho, vislumbro o telemóvel. Pego nele e inicio o processo de envio de mensagem escrita:
- Sinto falta da tua voz, dos teus conselhos... de fazer festinhas à tua gata quando ela se deita entre nós, olhando para ti e desejando que os carinhos fossem todos para ti.
Carrego no botão de cancelar, e lá vai mais uma mensagem para os rascunhos.
Damn it! Fecho os olhos, sacudo a cabeça e deixo os lábios soltos... Wake up call!!!
Vou às compras, está na hora de fazer o almoço...

4 comentários:

Abssinto disse...

Curvas.

R. disse...

..e contracurvas.

Ps: para a próxima carrega antes,no botão de enviar...adrenalina ;) a menos que ela não te mereça (claro)

Um beijo.boy**

Glummy disse...

Nem tudo pode ser retilíneo...

Vê:
Not that simple I´m affraid.

Psyco disse...

O medo controla a mente. Cabe-nos a nós, nem que seja com a ajuda de outros, anular esse tipo de controlo. Vais ver que não é difícil, trabalhoso mas não difícil.